terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas...

Não é estranha a pressa da Prefeitura Municipal de São Paulo em querer pôr abaixo o prédio onde centenas de famílias viviam, e que pegou fogo há cerca de duas semanas? De acordo com os bombeiros, as estruturas da edificação estavam comprometidas, mas 800 kg de explosivos, ao módico custo de R$ 3,5 milhões, pagos pelos munícipes paulistanos (talvez até por aqueles que foram vítimas do incêndio) não foram suficientes para implodí-las. A agilidade em querer derrubar o que servia de abrigo a quem não tem onde morar nos deixou irrequietos. Pesquisamos então nos mais diversos sites, dos grandes portais, em geral alinhados com o poder público, aos pequenos blogs, nos quais nota-se cada vez independência e precisão nas informações, principalmente por não terem rabo preso com quem quer que seja.

Em primeiro lugar, há uma divergência entre o número de vítimas fatais na contagem dos bombeiros e dos moradores. Os bombeiros afirmam que foram encontrados dois corpos carbonizados no local. No entanto, os moradores do local afirmam que esse número é de dez a quinze vezes maior. O blogueiro Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania (http://www.blogcidadania.com.br/2011/12/medo-e-revolta-marcam-o-natal-das-vitimas-da-favela-moinho-2/), esteve no local poucos dias após o incêndio e conversou com moradores do local, que disseram que houve muito mais mortes do que foi divulgado, e que muitas das vítimas eram crianças. O blogueiro relata ainda que os moradores estão com medo, pois foram ameaçados pela polícia para não revelarem o número correto de mortos.

Há ainda, segundo o site Real Hip Hop (http://realhiphop.com.br/blog/?p=3477), relatos de moradores na mesma linha do que foi dito acima: o número de vítimas é bem maior do que foi divulgado, podendo chegar a mais de 40 mortos. O que chama a atenção é a abordagem que a grande mídia deu ao ocorrido: ao invés de checarem as informações passadas pelos moradores e publicarem em seus jornais, preferem se omitir, tomando como verdade a versão de somente um dos lados, o que não foi atingido pela tragédia. A não ser pela mídia alternativa, independente, pouco se ouvirá falar sobre o ocorrido da forma como ele de fato aconteceu, nem de seus desdobramentos, se é que haverá algum.

Grande parte da população opta, mais uma vez, em ouvir e aceitar a versão oficial das autoridades, que do alto de seus gabinetes, estão pouco se importando com o destino dos desabrigados. O prefeito, em mais uma demonstração de incompetência de sua gestão, afirmou  após a implosão mal sucedida que "o objetivo desta ação não era implodir esse prédio" (se não era esse objetivo, pra que 800 kg de explosivos custando a bagatela de R$ 3,5 mi? E porque tanta pressa, tanto que os moradores das casas vizinhas ao prédio não foram sequer avisados sobre a implosão?). São perguntas cujas respostas não serão obtidas facilmente, mas que nos pemite conjecturar, e chegar a uma conclusão que não é novidade pra quem vive em São Paulo (embora caiba ressaltar que tal processo, explicado rapidamente ao fim do próximo parágrafo e que será devidamente abordado em outros posts, não seja exclusividade paulistana; algo semelhante ocorreu, tempos atrás, no Rio de Janeiro, quando os pobres foram empurrados pelo poder público para os morros).

A favela, que a grande mídia insiste em caracterizar como um refúgio de usuários de crack, pela relativa proximidade que tem com a cracolândia, no centro da cidade, na verdade nasceu, segundo afirma a própria comunidade da favela do Moinho por meio de uma carta aberta (leia aqui) pelas mãos de um grupo de catadores de material reciclável, que ali se estabeleceram justamente pela proximidade com o centro, onde coletam o material que, além de contribuir com o preservação do meio ambiente, lhes possibilitam garantir seu ganha pão, sem depender das benesses de qualquer instituição pública. É provável que ali residam também usuários de crack e de outras drogas, mas isso não permite concluir e difundir que o local é reduto de drogados. Tal argumento mais parece uma justificativa para um 'limpeza' social, buscando deixar essa massa marginalizada, que apenas batalha pela própria sobrevivência, fora do campo de visão das elites, falidas e preconceituosas, mas que ainda tem sob seu domínio os principais meios de comunicação, tendo assim o poder de transformar vítimas de uma tragédia em vilões aos olhos da sociedade paulista, conservadora e igualmente preconceituosa.

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