Neste natal, como nos anos passados, escrevi minha carta ao papai Noel. Não ao papai Noel tradicional, aquele com a barba branca e grande barriga, mas àquelas almas que, imbuídas do espírito natalino, resolvem, neste final de ano, fazer o natal de gente como eu um pouco menos sofrido. Deixei meu pedido na agência dos Correios próximo à favela onde moro, e saí com a esperança de que alguém tenha condições de me dar o que eu pedi: uma bola de capotão, de preferência do Corinthians, mas se não for, não tem importância. Certamente será melhor do que a bola de meia com a qual estou acostumado a jogar.
No ano passado, quando pedi um carrinho com controle remoto, infelizmente ninguém conseguiu comprar. Paciência, continuei brincando com meus carrinhos velhos, feitos de caixotes de frutas, faltando peças. Quando se é pobre como eu, dá-se um jeito de brincar com o que temos, desde carrinhos quebrados, bolas de meias velhas, ou qualquer coisa que nossa imaginação consiga transformar em brinquedos. Isso porque, se eu não brincar, vou me lembrar a toda hora da fome massacrante que toma conta de mim; minha última refeição foi um pedaço de pão amanhecido, sem margarina e sem café, hoje de manhã.
Na realidade, o que eu queria mesmo era ter o alimento de cada dia, o café da manhã, o almoço e o jantar, como qualquer família tem. Eu aposto que a família da boa alma que vai comprar meu presente faz três refeições diárias. Era tudo que eu queria. Não fazia questão nem do brinquedo, só pra poder comer. Mas de nada adiantaria, afinal, essas pessoas generosas só se lembram de gente como eu no natal. No resto do ano, tem outras preocupações, como seus trabalhos, suas famílias, seu bem estar. Estão ocupados demais para me dar atenção.
É uma pena, pois se ganhar um brinquedo no natal é gostoso demais, passar fome e ser ignorado no resto do ano não é bacana. Mas, se essas boas almas se sentem melhor agindo dessa forma, quem sou eu pra dizer alguma coisa. Agindo assim, eles acreditam que tomarão o reino dos Céus quando partirem dessa pra melhor; lá, certamente, há fartura de comida, diversão e respeito ao próximo, nos 365 dias do ano (se é que no paraíso existe essa coisa de dia, mês, ano). Lá, certamente, não há fome, nem dor, nem hipocrisia.
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