quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quem precisa de ...?

Não gosto da polícia. Não faço referência a um sargento, cabo ou capitão em específico, mas da instituição Polícia. A falta de apreço por essa instituição não é gratuita; quem é negro, e vive na periferia, entende o que estou falando. Ao longo de quase trinta anos, tomei, fazendo as contas por cima, mais de duas dezenas de "geral", procedimento no qual o policial militar te aborda na rua por considerá-lo suspeito, pergunta o que você está fazendo, de onde veio e pra onde vai, e depois de revistá-lo, falam, com a gentileza de um brutamontes raivoso, pra você ir direto pra casa, mesmo que você esteja indo pra qualquer outro lugar. A polícia pode abordar qualquer cidadão que ela julgue suspeito do que quer que seja, mas o que incomoda é saber que o estereótipo dos suspeitos é sempre o mesmo: negro e pobre.

Definitivamente, a sensação não é das melhores quando se é revistado tarde da noite, voltando de um dia de trabalho e estudos, por um policial despreparado, que na maioria das vezes usa da truculência e da ameaça para fazer valer seu papel de autoridade. Já tive pistola apontada pra mim, em uma dessas abordagens. Já fui xingado e ironizado, por não estar, em uma determinada ocasião, portando meus documentos. Já levei 'borrachada' dentro e fora do estádio, simplesmente por estar junto a uma massa que eles julgavam que ameaçava sua integridade. 

Em São Paulo, a Polícia Militar pensa estar acima de qualquer lei. Se acham deuses, inatingíveis, porque tem a lei ao seu lado e, principalmente, uma arma na mão. A farda lhes dá um poder imaginário, mas que é suficiente para transformá-los em brucutus descerebrados. A polícia perdeu de vez a medida daquilo que deveria ser sua atribuição, que é servir e proteger. A mim ela não serve de nada, e até o momento não precisei da sua proteção. Melhor assim, pois uma instituição que tem o histórico de erros operacionais que tem, é preferível não necessitar de seus serviços. 

Quem não se lembra do caso da favela Naval, quando um assassino fardado, de codinome Rambo, atirou pelas costas e matou um trabalhador negro? Ou o massacre do Carandiru, quando 111 presos foram exterminados? Outros casos corroboram minha tese: alguém já viu em algum outro estado 'democrático' a polícia espancar, de forma covarde, professores que reivindicavam aumento em seus escassos vencimentos? Ou mesmo entrar em conflito com outra facção da polícia, como aconteceu tempos atrás na porta do Palácio dos Bandeirantes? O que dizer então do que eles estão fazendo na cracolândia, limpando o terreno para que o centro seja revitalizado e explorado por empresas privadas, deixando a mercê da própria sorte milhares de doentes, que necessitam de tratamento médico, e não golpes de cassetetes ou tiros de bala de borracha. 

O caso mais emblemático se deu na USP, onde 400 PMs, mais cavalaria e um helicóptero foram utilizados para retirar (educadamente, é claro) 73 estudantes, entre eles algumas mulheres, como se fossem bandidos da alta periculosidade. Na Fundação Santo André, anos atrás, quando os estudantes e os professores protestaram e tomaram a reitoria que era acusada de, entre outras coisas, peculato e fraudes em notas fiscais, a Tropa de Choque da PM expulsou os estudantes com agressões físicas e prisões arbitrárias. Ou, no caso de abuso mais recente, um PM agrediu um estudante, coincidentemente negro (o único negro do grupo que foi inicialmente abordado), nas dependências da USP, por que este se recusou a lhe mostrar a carteirinha da faculdade (veja aqui). Onde já se viu tamanha afronta! Parece que a polícia existe, em São Paulo, apenas e tão somente pra reprimir o livre pensamento, e impedir que uma massa que deve, sempre e incondicionalmente, lutar contra o que a aflige e a oprime, não tenha voz.

Nunca, em nenhum caso, essas cassetadas, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha são lançadas na direção de quem detém o poder. Ao contrário, elas visam protegê-los de quem ousa tentar abalar as estruturas do status quo, nem que pra isso seja necessário usar de todos os meios que têm à sua disposição, servindo, convenientemente, de simples fantoches desse estado que tende sempre à opressão. Nesse aspecto, deixariam Mussolini e seus camisas negras corados de inveja.

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