quinta-feira, 28 de abril de 2011

Brasil, um país de tolos

*texto escrito originalmente pouco depois das eleições, em outubro de 2010

Tá certo que a política partidária brasileira sempre foi, digamos, peculiar, mas o que se vê de uns tempos pra cá é algo digno de um estudo mais aprofundado, ou ao menos de se pensar em pedir asilo ao Paraguai. Somente aqui, um cantor de pagodes de gosto duvidoso, e, pasmem, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, representante maior do capitalismo, saem candidatos a senador e a governador, respectivamente, pelo...Partido Socialista Brasileiro!! Sim, socialista, como se fossem discípulos de Marx e Lenin, que, pobres coitados, certamente se reviraram em seus caixões (ou, no caso de Lenin, em seu mausoléu, onde está embalsamado)...

Ou, o que dizer do dito esclarecido povo paulista, que votou em peso, como protesto (a que?), em um palhaço analfabeto sem qualquer preparo para exercer qualquer função que seja na Câmara dos Deputados. Mas parece-me que, um povo conservador como esses pobres paulistas, que elege há vinte anos o mesmo partido para governá-los, apesar do fracasso da segurança pública e da educação em São Paulo, não é do tipo que faz voto de protesto. Parece-me burrice pura e inexplicável mesmo...

Se bem que, pra quem já viu o imortal (em todos os sentidos que esta palavra possa ter) José Sarney, ex-presidente de ocasião, cujo maior feito foi agravar uma gigante crise econômica que assolava o país, e que já tinha sido governador e senador pelo Maranhão, sair candidato e se eleger senador pelo Amapá (!),  não há nada mais que surpreenda, afinal a estupidez popular não respeita meras divisas estaduais.

Aqui, o Partido da Social Democracia Brasileira volta seus olhos à tudo, menos ao social propriamente dito, e o Partido dos Trabalhadores faz jus ao seu nome, pois é um verdadeiro cabide de empregos; o Partido da Mobilização Democrática Brasileira é contra, por meio de seu expoente maior (aquele que citei no parágrafo anterior, sempre ele!) o voto facultativo, talvez uma das bandeiras maior do estado verdadeiramente democrático. Mas é sempre favor do governo, seja ele quem for e independente do que ele faça.

Nas últimas eleições deste Estado laico, a religião teve "papel" importante ao pautar o debate político, a ponto dos principais candidatos evitarem tocar em assuntos como o aborto (mais do que religião, deveria ser tratado como um problema de saúde pública), e quando se arriscavam a comentar sobre este tema, adotavam posturas mais que conservadoras; quanto a defesa dos direitos dos homossexuais, os candidatos quase sempre se saíam com evasivas, talvez para não perder votos de um eleitorado majoritariamente cristão; ou mesmo o problema das drogas (tráfico e legalização), que, embora não tenha relação direta com a religião, também foi pouco debatido durante o período pré eleitoral.

Tudo isso não é novidade, afinal quem acompanha com um mínimo de atenção a vida política brasileira, sabe que as convicções partidárias e ideológicas dos candidatos ficaram em segundo plano; o que importa são os mimos pré eleitorais às camadas mais pobres, que vão desde camisetas baratas à chaveiros e dentaduras, e a promessa de que esses presentinhos se converterão em votos; o que impera são a hipocrisia e a dissimulação. O triste é constatar que figuras que há anos mamam nas tetas de um cargo público não tem um pingo de consideração pelo povo que os elegem, e o povo, por sua vez, demonstra ser alienado e descompromissado com o próprio bem estar.

Mas, enfim, cada Estado tem o governo que merece; o que importa mesmo é o time de coração seja campeão, ou que a mocinha fique com o herói galã ao final do folhetim; na verdade, o povo nada mais é do que um espelho de seu governante: omisso, mesquinho, egoísta. Simples, e triste, assim.

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