sábado, 22 de novembro de 2014

Vamos mudar de assunto?

No último dia 20, foi celebrado mais uma vez o dia nacional da Consciência Negra, criado com o objetivo de trazer a reflexão do papel do negro na sociedade, relembrar as lutas dos movimentos negros, renovar as energias para se conquistar cada vez mais direitos e igualdade de oportunidades, e também para aflorar o orgulho que o simples fato de ser negro traz a cada um de nós.

Essa introdução serve para conduzir ao ponto que mais chama a atenção: o desconforto que qualquer assunto relacionado aos negros traz às pessoas. Parece que abordar a questão do preconceito racial causa engulho ao cidadão de bem-cristão-classe média. Um exemplo claro disso é o caso do goleiro Aranha, do Santos. Alvo de injúria racial por parte de torcedores do Grêmio de Porto Alegre, o arqueiro praiano decidiu trazer o assunto à baila; ao invés de se calar, como muitos outros fizeram anteriormente de forma covarde, resolveu botar a boca do trombone. Muitos disseram que ele deveria ter ficado quieto e deixado o assunto cair no esquecimento. Resumo da história: vimos mais gente defendendo a uma menina que o injuriou do que a ele, vítima das ofensas. Esse foi só o exemplo mais recente e notório do racismo tupiniquim.

“Ah, mas é só parar de falar mais em racismo que o racismo deixa de existir” ou sua versão mais requintada “não existe raça negra, amarela ou vermelha. Existe raça humana”, são os argumentos principais de quem acredita não haver ou fecha os olhos para a discriminação racial em pleno século XXI. É a tal da lógica de Morgan Freeman. Convém lembrar que essa mesma turminha do barulho é, em sua maioria, contra as cotas para negros nas universidades, sob a falsa lógica do racismo inverso (?), e contra qualquer ação que possa beneficiar, ainda que minimamente, um povo que sofreu por séculos com escravidão, segregação e outras monstruosidades inimagináveis.

Se formos levar ao pé da letra a lógica do “é só parar de falar em racismo que ele acaba”, deveríamos então parar de falar de assassinatos de negros nas favelas em proporção absurdamente maior do que de brancos, ou da figura do negro sempre como serviçal nas novelas globais e não globais. Ou, saindo um pouco do tema, vamos parar de falar em corrupção, de pobreza, da fome que ainda mata milhares de pessoas em todo o mundo. Enfim, quando surgir um problema espinhoso pela frente, a solução é deixar de falar nele que ele vai se resolver por si mesmo.

Assim sendo, que tal pararmos de falar da falta de água em São Paulo? Se você fizer isso, pode acreditar que em questão de horas, a água vai brotar do solo rachado dos reservatórios e você poderá, finalmente, tomar seu banho de meia hora e lavar seu quintal todo dia, usando o jato d’água como vassoura. Basta depois não tocar no assunto.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Hemorroidas: coisa do capeta. Ou: a arte de parir um porco espinho. Ou ainda: Pregas? Pra que?

Aos dois ou três que pretendem ler essa bagaça até o fim, um aviso: o texto contém partes nojentas.

Penso por dias a fio sobre a possibilidade de escrever sobre algo tão pessoal. Tenho um nome a zelar. E minha dignidade? Então me lembro que o restinho dela foi embora no momento em que esse toba preto era depilado por um enfermeiro atencioso. Ou talvez ela já tenha se esvaído há muito, nos momentos em que esse tumorzinho lazarento na entrada do reto resolveu dar as caras e expelir secreções, molhando calças e constrangendo quem as vestia, às vezes de forma imperceptível aos olhos (infelizmente, não aos olhos dos outros)

Então decido: que se foda. Dignidade e pregas são coisas que perdi há algum tempo já. E começo, então, esse breve relato. Amigos, coisas ruins acontecem. Levar um fora daquela menina por quem você é fissurado. Bater o dedinho do pé na quina da mesa. Ter hemorroidas. Quer dizer, hemorroidas, por si só, sendo um problema de saúde relativamente comum, não representa grande risco. O pior é o que vem depois de resolver tratá-las. Quero dizer, já tive crise renal, já quebrei o braço esquerdo três vezes, meu ombro sai do lugar com a mesma freqüência que eu respiro, e digo que tudo isso é fichinha perto do que narro a seguir.

Sem medo de errar, sentencio que nada é pior do que o pós operatório de uma hemorroidectomia. Por evidentes motivos, nunca pari uma criança. Mas imagino que tentar cagar nos dias logo após extirpar esses vasinhos malditos cause uma dor comparável a dar à luz um abacaxi com casca e coroa sem qualquer anestesia. Não sei, esse é o paralelo mais próximo que consigo traçar para dimensionar dores. E, ainda por cima, o pós operatório tem alguns agravantes: qualquer movimento mais brusco é punido com uma dor lancinante. Uma tossida dói na alma. Um espirro então nem se fala. Sentar, só de lado e com jeito. E ai se der o azar de largar o corpo no sofá, como se faz quando se esquece da condição de recém operado.

O tumor não está mais lá, mas a dor persiste por mais alguns dias. O doutor garante que o problema foi resolvido, e que essa fase é bem difícil mesmo. Mas como confiar nesse desnaturado, sem coração, que sequer ofereceu flores depois daquele momento tão íntimo e especial? Não sei, mas enquanto isso vou sofrendo sozinho aqui com minha dor, às vezes desejando morrer, mas torcendo e esperando que isso acabe logo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

25 anos sem Raul



Hoje, 21 de agosto, completam-se 25 anos da morte de Raul Seixas. Naquele dia surpreendentemente quente de agosto de 1989, saiu da vida um bêbado com a carreira em frangalhos, vivendo quase no ostracismo, fazendo discos ruins e entrando e saindo de clinicas de reabilitação, para entrar para história da música e para a história da vida de muitos que viam (veem) em suas letras algo mais do que simples canções.

Escrevi sobre Raul há pouco mais de dois anos, por ocasião do lançamento do filme de Walter Carvalho, ‘Raul – O Início, o Fim e o Meio’, documentário precioso primeiro por não ser chapa branca, como o filme da vida do Cazuza, por exemplo, e também por mostrar cenas inéditas de Raul em shows e entrevistas, e em relatos daqueles que o cercaram em sua trajetória como astro do rock. O exagero era parte de sua vida, seja no uso de drogas e álcool, seja na capacidade de provocar a tudo e a todos. Caso tenham curiosidade, leiam esse texto aqui.

Cantor apenas bom, músico medíocre, Raulzito tinha como trunfo a força de suas letras. Estas carregavam mensagens poderosas, de um jeito quase simplório. Ouçam ‘Tente Outra Vez’ e notem se não sentirão vontade de sacudir o mundo. Ou ‘Metamorfose Ambulante’, para saber que não há problema em mudar seus conceitos sobre a vida, e que isso é bem melhor ‘do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’. Deleite-se sem restrições com o álbum Gita, o melhor álbum da música popular brasileira em todos os tempos. Em que outro álbum, afinal, se ouve faixas como ‘Sociedade Alternativa’, ‘S.O.S.’, a faixa título 'Gita' (que diz mais sobre nossas vidas do que qualquer outra canção ou livro ou obra que possa haver) e ‘Loteria da Babilônia’?

Raulzito deve estar feliz de ter partido tão cedo. Não teve tempo pra ver o processo de cabacização (substantivo para o ato de tornar-se cabaço, processo tão comum atualmente, especialmente em músicos dos anos 1980) dos roqueiros que vieram depois dele. Imaginem Raul tendo que aguentar um Roger ou um Lobão da vida defendendo o regime militar que ele, Raul, com suas músicas e sua postura incisiva, sempre provocadora, ora com sutileza ora com os dois pés no peito dos milicos covardes e assassinos, combateu diuturnamente.

Raul viveu e morreu como quis, e sempre pareceu ter absoluta consciência disso. Morreu, talvez pra não aturar a escrotidão dos dias de hoje. Ou morreu, talvez, para não se tornar ele próprio um imbecil, como o ultrajante Roger. Acho que Raul deve ter partido num disco voador; sua obra, porém, ajuda a trazer, ainda hoje, um significado a milhares de pessoas que deveriam estar contentes por ter tido sucesso na vida, com seus empregos, seus carros e seus passeios em zoológicos e tobogãs, mas não estão.

Abaixo, o top 13 das músicas de Raul, sem ordem de preferência.

Loteria da Babilônia


Gita


Maluco Beleza



Por Quem os Sinos Dobram


Você



Tente Outra Vez


Eu Sou Egoísta
Metamorfose Ambulante
How Could I Know
Meu Amigo Pedro
Ave Maria da Rua
Sapato 36
Só pra Variar

sábado, 12 de julho de 2014

Constatadores do óbvio

Não que seja uma novidade, mas esses dias de Copa serviram para trazer à baila um tipo bastante comum: o constatador do óbvio. O constatador do óbvio, doravante CO, é aquele tipo que, ao ver a seleção brasileira perder um jogo, começa a fazer comparações esquizofrênicas entre o futebol e qualquer outro assunto em que o Brasil esteja em desvantagem. A Alemanha tem 78 prêmios Nobel, o Brasil nenhum; o Japão já ganhou cinco Oscars (Óscares?) de melhor filme estrangeiro, o Brasil zero; a Venezuela tem doze prêmios de Miss Universo, o Brasil necas.

Complementando essa análise deveras abalizada, o CO, por definição, sofre do complexo de vira lata, famigerada 'patologia' rodrigueana, e mal sabe o que acontece fora do seu mundinho de frases prontas. Pro CO, tudo é claro e evidente, e se resume a chavões e clichês. No entanto, ele normalmente acredita que constatar o óbvio o torna um ser diferenciado. Reconhece-se um CO a léguas de distância; se vir alguém dizer 'isso é Brasil', ou 'esse brasil (com minúsculo mesmo) é uma vergonha'. O CO acha lindo cantar o Hino Nacional aos gritos, mas não sabe o significado de 'fúlgidos', 'lábaro' ou 'plácido'. Não importa o significado do hino, o que vale é se emocionar ao ver jogadores de futebol canta-lo gritando.

O CO consegue ser contraditório, mesmo constatando o óbvio. Um exemplo claro: acha a educação do país uma porcaria, mas quando bravos professores lutam e fazem greve por melhores condições, são tachados pelos COs de 'vagabundos', 'só servem para atrapalhar o trânsito' etc. Diz que a saúde pública é uma merda, embora NUNCA tenha ido a um posto de saúde. Espalha aos quatro ventos que os impostos no Brasil são os mais altos do mundo, embora isso não esteja sequer perto da realidade. Afirma, convicto, que metroviários não podem entrar em greve porque já ganham muito bem, embora não saiba quanto um metroviário receba efetivamente como salário.

O CO, de tão óbvio, vai ler isso e vai falar: que bosta de texto. Mas não vai se dar ao trabalho de confirmar se a questão dos impostos é real ou não (acredite, é um fato). Não vai arriscar ir a uma UBS pra ver se o atendimento é ruim mesmo. Não vai se unir à luta dos professores, pois isso significaria abandonar seu universo de clichês. Afinal, o CO não pode viver sem mandar, com a boca cheia, um 'isso é Brasil' quando vir a foto de um bebê, num hospital, acomodado em uma caixa de papelão, mesmo que a foto seja de um hospital em Tegucigalpa. Afinal, o que é Tegucigalpa?, indagaria, com ar de desprezo, o constatador do óbvio.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Porque?

Você não pode fazer parar de trabalhar porque atrapalha o cidadão
Eu não paro de trabalhar porque o que me dão está bom
Porque vocês não são como eu?
Eu não luto, porque vocês haverão de lutar?
Eu não questiono, porque vocês haverão de questionar?
Porque vocês não são como eu?
Eu trabalho, você trabalha
Pelo pão, por um pedaço de chão
Somos um só, meu irmão
Porque vocês, sim, são como eu

terça-feira, 29 de abril de 2014

#somostodos

Tempos atrás, no Twitter, Danilo Gentili perguntou a um negro (anônimo) que lhe questionava sobre uma suposta propagação de racismo em seu programa de TV quantas bananas ele queria para deixar o assunto pra lá. O negro, de nome Thiago, disse que ia ‘procurar a justiça’ para que o comediante pudesse ‘pagar pelos seus crimes’.


Na sequencia, fãs de Gentili desandaram a insultar Thiago, também lançando mão de ofensas racistas.


Não houve indignação coletiva, nem campanhas a favor de Thiago, que, pelo que sei, entrou de fato na justiça contra o comediante racista e aguarda por uma decisão do judiciário. Mas nada de hashtags e fotos de famosos solidárias ao negro anônimo.

Na última semana, um jogador de futebol foi alvo de racismo. Outro jogador de futebol superstar manifestou seu apoio, via Instagram, com uma banana em mãos e a frase: somos todos macacos. Pronto: o #somostodosmacacos virou febre, com milhões de pessoas compartilhando e posando para fotos comendo ou segurando bananas.

Entretanto, e felizmente, não teve um negro sequer que exibiu em suas redes sociais o #somostodosmacacos (pelo menos não que eu tenha visto). Mas vi Dinho Ouro Preto, Ana Maria Braga, Reinaldo Azevedo, INRI Cristo! Vi também Luciano Huck e sua família de comercial de margarina comendo bananas. O apresentador, aliás, decidiu capitalizar em cima do tema, e já vende camisetas com a frase por módicas 70 pratas. Soube-se depois que o slogan fora previamente elaborado por uma agência de publicidade.

O que causa espanto é uma peça de marketing feita por e para brancos ricos propagada aos quatro ventos por pessoas comuns (e brancas). Aquele amigo do Facebook, aquele seguidor no Twitter, todos se sentem fodões por postarem fotos comendo bananas acompanhadas do #somostodosmacacos. Talvez pensem que estão fazendo sua parte, bem intencionados que são. Só que de boas intenções o inferno está cheio. Então, num momento cagação de regra da minha parte, lhes peço: parem com isso. Apenas parem. Negros não são macacos. Brancos também não. Macacos são macacos. Vocês são apenas estúpidos. Entao, que subam o #somostodosestúpidos. Ficaria mais apropriado. Só não deixem que o Huck saiba.

terça-feira, 1 de abril de 2014

50 anos

1964
Torturas
‘Naquele tempo que era bom’
Milagre brasileiro
‘Sobrava emprego pra gente’
Mortes
‘Bandido bom é bandido morto’
Sevícias
‘Se ela está vestida assim, está pedindo pra ser estuprada’
Marcha da Família com Deus
‘Tem que matar esses comunistas!’
1964?
2014

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Crônica de um despertador espatifado

Pedro nunca tivera muito contato com Rosana. Na verdade, colegas de trabalho que eram, apenas se cumprimentavam de forma protocolar, sem beijos ou abraços, apenas ois sem qualquer entusiasmo. E assim fora, por um bom tempo, a relação. Apesar de estarem no mesmo setor, trabalhavam distantes. Ele, meio que indiferente a ela, bem como ela quanto a ele. Eram estranhos um ao outro.
Certo dia, porém, num almoço qualquer com os amigos, alguém comentara sobre a menina do sorriso grande. Sobre Rosana. Pedro, até então indiferente, reparou, não só no sorriso, mas em todo o seu corpo. E foi arrebatado. Encantou-se com aquela menina, e precisava fazer algo. Mas Pedro era estranho. Não bastasse a timidez, também tinha crises terríveis de ansiedade. Parecia impossível para ele, rapaz introvertido, sentindo o coração prestes a sair pela boca e suando por todos os poros, se declarar a alguém.
Ainda assim, sabe-se lá como, tomou coragem, chamou-a para conversar e abriu seu coração. Não criou, no entanto, qualquer expectativa quanto à possibilidade de o sentimento ser recíproco, pelo fato de ela ser casada. Ele também era, mas para Pedro, isso era um detalhe menor. Aliás, pensava diferente do senso comum. Sua fidelidade era, acima de tudo, para consigo mesmo. Com seus ideais, com sua felicidade. Jamais saía de casa pensando em cobiçar outra mulher, mas nunca descartava a possibilidade de se encontrar alguém interessante pelo caminho.
Rosana lhe disse que era impossível qualquer coisa entre os dois. Pedro não se decepcionou, já esperava a negativa. Mesmo assim, a partir daí, a relação entre os dois ficou menos distante. Não se tornou uma amizade, mas Pedro já se sentia mais a vontade para conversar sobre qualquer tema menos importante. Sua única alegria, naqueles dias difíceis de trabalho duro, era vê-la passar apressada pra lá e pra cá, sempre sorrindo.
Tempos depois, Pedro saiu do emprego, e levou consigo a lembrança daquele sorriso. Ainda conversaram algumas poucas vezes pela rede durante um tempo, sempre trivialidades, mas nunca mais ele a viu. Pensa nela dia sim, outro também, mas a distância, implacável, arrefeceu o sentimento. Até a noite em que Pedro sonhou com Rosana. Pelo menos em seu inconsciente, Pedro finalmente tinha Rosana em seus braços. Pelo menos em seu sonho, Pedro estava outra vez feliz. Mas o despertador tocou...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Agora quem dá bola são os coxinhas

Santos perde de 8 a 0 para o Barcelona, maior goleada sofrida em 58 anos. Dia 02/08/2013. Santos perde de 4 a 0 para o Barcelona. Dia 18/12/2011. Em pouco mais de 18 meses, em dois jogos, tomou 12 gols, não marcou nenhum. Nos dois jogos não viu a cor da bola. Pior ainda, nos dois jogos, os indignos jogadores de branco pareciam maravilhados por assistir seus ídolos, aqueles que só viam no videogame. Mais pior ainda (desculpem, não achei outra expressão que substituísse o 'mais pior'), é ver que NINGUÉM está nem aí para mais esse vexame. O importante é o dinheiro no bolso e os passeios com tudo pago pelo adversário pelas praias e ramblas da Catalunha.

O NINGUÉM em questão é o tal Comitê de Gestão que comanda o clube. Quando da eleição que finalmente permitiu a troca da presidência, do mecenas rico pra caralho Marcelo Teixeira para o bonachão Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, o Laor, criou-se a esperança de que a situação pudesse melhorar. Melhorou, pois os títulos surgiram, os contratos de patrocínio triplicaram, o número de sócios aumentou substancialmente, as receitas de televisão quintuplicaram. Ainda havia o fundo de investimentos que aportaria pelo menos 40 milhões de reais apenas para contratar grandes craques. O futuro prometia. E olha que nessa época Neymar nem era o craque consagrado que é hoje. Porque, ao fim e ao cabo, goste-se ou não, foi ele, e só ele, que alavancou tudo isso. Se não fosse por ele, o Santos seria como... o Santos daquele do ínicio dos anos 90, com seus Arizinhos, Camilos e Pedros Paulos, Joões Fumaças e Mauricios Copertinos. Triste época...

Sem mais rodeios, a parada é a seguinte: estão acabando com o Santos. Um bando de executivos coxinhas (perdão pela redundância) supostamente bem sucedidos em suas áreas (para Laor, um grupo de 'notáveis') comandam o Santos com a frieza e a racionalidade com que comandam suas empresas. Frieza e racionalidade, bem sabemos, não combinam com futebol. Os coxinhas notáveis não contratam jogadores de nível porque a frieza dos números não permitem tais caprichos. O importante é manter o clube saudável financeiramente, mesmo que isso signifique montar times horríveis que perdem de 4 e 8 a 0 e passam vergonha em escala mundial. Pois então que se fodam os números. Se virem para arrumar a grana e montar um time, seus inúteis filhos da puta!

Até com a Vila essa corja conseguiu acabar. Há poucos anos, dizia-se com absoluta razão que jogar na Vila era um inferno, pela torcida bafejando no cangote do torcedor adversário que ia cobrar um lateral ou escanteio, pelo festival de havaianas jogadas no time rival (e devidamente devolvidos aos seus donos ao final dos jogos), pelos copos com resto de cerveja e/ou mijo e/ou bitucas de cigarro também lançados contra quem não vestisse o branco. Tudo isso morreu. Trocaram os antigos alambrados por vidros temperados de alta resistência; transformaram o caldeirão em um aquário quase inanimado. Colocaram cadeiras anatômicas no velho cimento que queimavam as bundas caiçaras e o fazia ficar em pé o tempo todo xingando os rivais, o juiz e os bandeirinhas. Onde cabiam 20 mil passaram a caber ridículos 12 mil. Acabaram com o torcedor apaixonado para constituir uma rede de clientes fidelizados caninamente, o tal sócio rei. Tudo se 'acoxinhou' pelos lados da Rua Princesa Isabel, S/N.

O Santos perdeu de 4 a 0 no Mundial, mas ganhou o dinheiro da premiação dada aos times que participaram do torneio. Perdeu de 8 a 0, mas ganhou mais dinheiro, viagem com tudo pago e exposição (negativa, claro) no mundo inteiro. Mas, pior de tudo, o Santos, time grande de uma cidade pequena, perdeu sua identidade, seu diferencial. E isso não tem dinheiro que pague. Tudo sob o comando do tal Laor. Tudo sob o comando dos 'notáveis' coxinhas sem alma e sem brio.

sábado, 11 de maio de 2013

Por nossos filhos


Que o governador, que, entre outras afrontas, nomeou como secretário particular um indivíduo que nega ter havido torturas e mortes no Brasil durante o regime militar, aja da forma como agiu, não nos causa espanto. Afinal, essa não é primeira vez que Vossa Excelência solta seus cachorros em cima de pessoas que não representam perigo a quem quer que seja. Lembremos do Pinheirinho... Enfim, não se poderia esperar outra atitude além da que foi tomada.

Que a PM tenha espancado professores, esses elementos altamente perigosos, com a valentia e coragem habitual, dando porradas em gente desarmada, despreparada para o confronto, ao contrário deles próprios, defensores da ordem devidamente adestrados e armados até os dentes, com cassetetes, spray de pimenta, bomba de efeito moral e balas de borracha também não surpreende. Afinal, essa polícia sempre primou por sua bravura, como podemos notar nos recentes confrontos com a facção criminosa que age nos presídios e nas ruas de São Paulo.



Que a mídia trate professores como vagabundos, seres dispensáveis cujo único objetivo é o de atrapalhar o trânsito da já caótica capital paulistana, é absolutamente compreensível. Não se pode esperar muito mais de quem tenta nos passar uma visão distorcida da realidade, e que por isso vê sua credibilidade ruir dia após dia, felizmente num caminho que parece sem volta.

Que nos calemos de forma cúmplice, num misto de letargia e negligência com o futuro dos nossos filhos e netos, ou pior ainda, que avalizemos tudo o que foi exposto nos parágrafos anteriores, já não é aceitável ou inteligente. Pelo contrário. Esse silêncio nos torna piores do que todos eles. Eles certamente defendem apenas seus interesses ao tomar as ações que tomam e beneficiam-se com esse cenário. Nós não. Só temos a perder, nós e nossos filhos, caso não nos movimentemos. Abracemos, pois, incondicionalmente, a causa dos nossos professores. Essa luta vale a pena ser lutada.