terça-feira, 2 de setembro de 2014

Hemorroidas: coisa do capeta. Ou: a arte de parir um porco espinho. Ou ainda: Pregas? Pra que?

Aos dois ou três que pretendem ler essa bagaça até o fim, um aviso: o texto contém partes nojentas.

Penso por dias a fio sobre a possibilidade de escrever sobre algo tão pessoal. Tenho um nome a zelar. E minha dignidade? Então me lembro que o restinho dela foi embora no momento em que esse toba preto era depilado por um enfermeiro atencioso. Ou talvez ela já tenha se esvaído há muito, nos momentos em que esse tumorzinho lazarento na entrada do reto resolveu dar as caras e expelir secreções, molhando calças e constrangendo quem as vestia, às vezes de forma imperceptível aos olhos (infelizmente, não aos olhos dos outros)

Então decido: que se foda. Dignidade e pregas são coisas que perdi há algum tempo já. E começo, então, esse breve relato. Amigos, coisas ruins acontecem. Levar um fora daquela menina por quem você é fissurado. Bater o dedinho do pé na quina da mesa. Ter hemorroidas. Quer dizer, hemorroidas, por si só, sendo um problema de saúde relativamente comum, não representa grande risco. O pior é o que vem depois de resolver tratá-las. Quero dizer, já tive crise renal, já quebrei o braço esquerdo três vezes, meu ombro sai do lugar com a mesma freqüência que eu respiro, e digo que tudo isso é fichinha perto do que narro a seguir.

Sem medo de errar, sentencio que nada é pior do que o pós operatório de uma hemorroidectomia. Por evidentes motivos, nunca pari uma criança. Mas imagino que tentar cagar nos dias logo após extirpar esses vasinhos malditos cause uma dor comparável a dar à luz um abacaxi com casca e coroa sem qualquer anestesia. Não sei, esse é o paralelo mais próximo que consigo traçar para dimensionar dores. E, ainda por cima, o pós operatório tem alguns agravantes: qualquer movimento mais brusco é punido com uma dor lancinante. Uma tossida dói na alma. Um espirro então nem se fala. Sentar, só de lado e com jeito. E ai se der o azar de largar o corpo no sofá, como se faz quando se esquece da condição de recém operado.

O tumor não está mais lá, mas a dor persiste por mais alguns dias. O doutor garante que o problema foi resolvido, e que essa fase é bem difícil mesmo. Mas como confiar nesse desnaturado, sem coração, que sequer ofereceu flores depois daquele momento tão íntimo e especial? Não sei, mas enquanto isso vou sofrendo sozinho aqui com minha dor, às vezes desejando morrer, mas torcendo e esperando que isso acabe logo.

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