domingo, 29 de maio de 2011

Vitória?

No início de maio, o Supremo Tribunal Federal aprovou, por unanimidade, a união homoafetiva, que possibilitará, entre outras coisas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por 6 votos a 0, o STF mandou às favas seu conservadorismo habitual, e decidiu em favor de uma parcela da sociedade que, em pleno 2011, ainda sofre com o preconceito enraizado nas "boas almas cristãs" deste país.

A aprovação, por si só, é digna de nota, pois, a partir de agora, os gays terão os mesmos direitos dos casais heterossexuais ao se unirem no sagrado matrimônio, ou até mesmo quando somente tiverem constituído uma união estável. Entretanto, em uma análise mais ampla, e após observar a movimentação dos retrógrados intolerantes, compostos, em sua maior parte, por deputados da bancada evangélica na Câmara Federal (aquele local puro onde somente pessoas com passado e presente ilibado labutam arduamente, de terça à quinta, para o desenvolvimento do Brasil), e também por setores da Igreja Católica, acredito que, na prática, pouca coisa mudará para essa camada de sociedade.

Isso porque, embora o reconhecimento da união homoafetiva seja um passo de relativa importância, enquanto houver imbecis que atacam e quebram lâmpadas na cabeça de alguém por considerá-lo afeminado, ou enquanto uma instituição desmoralizada por seus casos de pedofilia continuar 'jogando contra' (embora se reconheça que uma parcela da igreja se mostrou favorável à decisão), ou, ainda, enquanto houver vigaristas da fé no Plenário Nacional fazendo de tudo para que essa parcela não tenha voz ativa, os gays continuarão padecendo do mesmo mal que lhes aflige desde sempre: o preconceito e o desrespeito da maior parte do povo brasileiro,  manipulado por quem se apega a doutrinas religiosas interpretadas da forma que melhor lhes convém; ele, o povo, nesse caso, é mero fantoche dessa corja de aproveitadores.

O STF deveria votar, sim, talvez até com maior urgência, a criminalização da homofobia, para que os detratores dessa minoria pudessem ser punidos cada vez que lançassem mão de seus ataques raivosos contra os homossexuais. Permitir que eles se unam legalmente, mas que continuem sendo atacados por gente da pior espécie, parece ser algo sem efeito, pois não resolve ou ameniza o problema principal: a falta de respeito para com o próximo, só porque ele não tem a mesma opção sexual que a maioria da população.

Por tudo isso, não acredito que a decisão do STF seja, efetivamente, uma vitória do público GLS. Foi um importante passo, mas ainda pequeno, pois, enquanto não se tomarem medidas práticas para arrefecer o preconceito incrustado nas mentes pequenas da sociedade brasileira, o reconhecimento da união homoafetiva não terá efeito prático; dar-lhes-á o direito de constituírem família, adotarem filhos etc, mas não impedirá que continuem marginalizados aos olhos desse povo tradicionalista e conservador.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Isso aqui é trabalho, meu filho!!

Definitivamente, sou um sujeito antissocial. Quase não tenho amigos, e, dos poucos que considero como tal, de uns tempos pra cá andam meio distantes. Isso não é um problema; pelo contrário: aquele provérbio "antes só do que mal acompanhado" cabe perfeitamente a mim. Aliás, eu acrescentaria: "antes só do que mal acompanhado, ou mesmo acompanhado". Companhia, só se for muito boa mesmo, daquelas que ou te acrescentam alguma coisa, ou que pelo menos seja divertida.

Existem pessoas que tem uma necessidade quase patológica de se dar bem com todo mundo, como se essa aceitação significasse que outras pessoas gostem dela, ou mesmo que as respeitem. No ambiente corporativo tem muito desse tipo de gente. Esse tipo mal te cumprimenta, mas se precisam de algum favor ou de qualquer outra coisa, vem falar contigo como se fosse amigo íntimo. Eu tenho certa repulsa a esse tipo de pessoa. Felizmente, não sou dessa laia. Procuro tratar a todos no trabalho da mesma forma, considerando, é claro, o grau de intimidade com uma ou outra pessoa, que me permite, em alguns casos, fazer piadinhas cretinas, observações vazias ou brincadeiras sem graça.

Não participo de campanhas cujo objetivo é (me) aproximar (d)essas pessoas, pois dispenso essa aproximação. Nos cafés da manhã e almoço em equipe, se não fosse pela comida, eu jamais faria parte dessa tentativa patética de congregar pessoas que, na maioria dos casos, mal se respeitam, e na primeira oportunidade, falam mal um do outro pelas costas. Penso que o mais correto, no ambiente empresarial, é chegar pela manhã, falar 'bom dia' a quem estiver por perto, trabalhar, e dizer 'até amanhã' quando for embora. Mais do que isso, é excessivo, e, portanto, perfeitamente dispensável.

No trato com os superiores em hierarquia, a relação é boa, até certo ponto amistosa, porém distante, como toda relação patrão-empregado deve ser. Faço meu trabalho bem, consequentemente sou bem avaliado, e ao final do mês recebo meu salário (que não é condizente com o trabalho bem feito, mas vá lá). Sem puxa-saquismos, conluios, patotas ou seja lá o nome que queiram dar a essa relação. Essa coisa de ser amigo de chefe é, além de hipócrita, perigosa, pois se amanhã ele precisar fazer algo que te prejudique (aplicar uma sanção, ou mesmo te demitir) ele o fará sem qualquer culpa. Ou mesmo que tenha alguma culpa, ele fará o que tem que fazer de qualquer forma, então, quando chegar minha hora de receber o bilhete azul, que seja estritamente profissional, sem lágrimas forçadas ou desculpas esfarradapadas por ter que dispensar um "brother".

Meus (poucos) amigos estão aqui na bairro, na rua de casa, no meio dessa gente que me conhece desde moleque, sem dissimulações ou melindres. Os parceiros de verdade estão basicamente na família, pois quando eu precisar de qualquer coisa, posso recorrer a eles sem pensar duas vezes. Os demais são apenas colegas de trabalho, e, provavelmente, quando mudarmos de emprego, não teremos mais contato nenhum (exceto com a rapaziada do futebol, mas aí é outra história; o que o futebol une, só Deus pode separar).