Amanhã, este que vos escreve completa mais um ano de vida. Esse é o mote para o que pretendo
escrever nas próximas mal traçadas linhas. Começo por dizer que aniversários
são uma merda. Não pelos amigos que se lembram da data e nos mandam
felicitações, muitas vezes sinceras, outras nem tanto. Muito menos pelos
presentes que sempre acabamos ganhando dos nossos entes mais próximos e amigos
mais chegados. Mas sim pela carga que mais um ano de vida põe em nossas costas.
Seinfeld disse
certa vez, em um dos episódios da clássica sitcom que levava seu nome, que aniversários são o símbolo do
quão velho ficamos e do quão pouco evoluímos. Essa premissa, por mais simples
que pareça, é absolutamente verdadeira. Mas também não quero discutir o conceito
de evolução (o famoso ‘subir na vida’) tão em voga nesse mundo dinheirista, aquele
de conseguir um emprego melhor, a casa própria, o carro zero, ou coisa assim. Tampouco o de evoluir culturalmente, intelectualmente, de conhecer cada vez mais, sei lá, novos conceitos e teorias que podem influenciar e mudar a visão que temos do
mundo e de nossas vidas. Sinceramente, não estou com saco pra isso.
Falo, sim, de
algo mais simples de se perceber e de abordar: das dores que não tínhamos e
cansaços que não sentíamos. Eles começam a aparecer de repente e, quando
notamos, já estão tomando conta de nossos frágeis corpos (que outrora
pensávamos ser de ferro). Se antes vivíamos a 200 km/h por hora, hoje não conseguimos
ultrapassar a barreira dos 60 km/h. Eu, que já era um velho ‘de cabeça’ (sempre
me disseram que nasci na época errada, por achar, de uma forma geral, que tudo
que é velho é melhor do que as coisas de hoje), agora sou um ‘tiozinho’ também
fisicamente. Um futebol com os amigos, que há poucos anos atrás poderia durar
horas e horas a fio, hoje não passa da uma hora habitual. E haja remédio para
dor nos dias seguintes.
Uma ridícula
barriga de chope começa a dar as caras, mesmo eu sendo abstêmio; a maior parte dos cabelos já se despediu do hoje brilhante couro
cabeludo, e os cabelos guerreiros que insistem em permanecer nesta grande cabeça estão embranquecidos; as
articulações, especialmente as do baleado ombro esquerdo, doem quando a
temperatura cai mais do que três graus. Lá no interior, aquele tio-avô que se acha engraçado
diria que estou no bico do corvo. Disso, eu até
discordaria, pois ainda não cheguei a esse ponto, mas como já está ficando tarde e o sono começou a bater, vou telefonar para a polícia para acabar com o samba que rola solto em frente de casa e encerrar esse pequeno desabafo por aqui mesmo.