terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O túmulo do samba e da esperança de dias melhores.

Vinícius de Moraes disse certa vez que São Paulo era o túmulo do samba. À época, talvez tal comentário tenha sido um tanto quanto exagerado, já que em Sampa havia nomes como Adoniran Barbosa, Demônios da Garoa, Geraldo Filme, Germano Mathias, Toquinho, entre outros nomes menos famosos. Já quando o assunto era carnaval, este blog não tem condições de afirmar se naquele tempo era pior do que é hoje, e isso também não interessa neste momento. O que se pode dizer com segurança é que em São Paulo, hoje, agora de forma oficial, o samba pereceu. O que se duvidava estar morto, hoje foi enterrado na vala comum da história.

Esse defunto foi definitivamente sepultado hoje, embora sua morte venha acontecendo lentamente há alguns anos, desde que, entre outras coisas, passou a se permitir que torcidas organizadas pudessem desfilar no sambodrómo. Numa rápida pesquisa na internet, verifica-se que todos os anos acontecem atos de vandalismo em algum momento do carnaval paulistano, na maioria da vezes sempre com a mesma escola, e em alguns casos até quando ela é campeã. Mas nunca se toma qualquer atitude para resolver definitivamente esse problema, pois não convém resolvê-los, sob o risco de prejuízos eleitorais (quem se arriscaria, por exemplo, a banir uma escola de torcida organizada do clube com maior números de aficcionados em São Paulo? Aproveito, antes que eventuais críticas comecem a aparecer, para esclarecer: citei o exemplo de uma torcida, mas a mesma opinião vale para qualquer escola de samba oriunda de torcidas organizadas, independentemente do clube) ou por pura covardia mesmo.

Mas esse nem é o principal problema de um carnaval insosso, sem graça, que sobrevive sabe-se lá porque, tamanha a sua irrelevância. Talvez Vinícius tenha visto nos anos 1960, quando disse a frase que abre este texto, o que todos constatamos hoje. O sambodrómo, aquele monumento ao mau gosto construído ao lado da eternamente fétida Marginal Tietê, a partir de hoje, de forma definitiva e irreversível, viu o fim daquilo que uns paulistanos metidos a carioca da gema ousam chamar de carnaval. O que se viu hoje nada mais é do que o retrato do que esta cidade e este Estado se transformaram: uma terra habitada por um povo alienado, ensimesmado, governado por gente desqualificada, mas que pensa ser exemplo para cidadãos de outros lugares.

São Paulo, esta terra ainda chamada por muitos de locomotiva do Brasil, hoje deu, ao resto do país e ao mundo, mais uma demonstração do espiríto belicoso que domina essa gente. Em pouco tempo, este lugar nos deu tantas demonstrações de quão atrasada e de quão empapuçada da arrogância essa gente ainda é. Não se deram conta de que a república do café com leite acabou, e que, na Revolução de 1932, foram sumariamente derrotados. Nos dias de hoje, com suas cracolândias, Pinheirinhos, Kassabs, Malufs, Serras, Alckmins, Rodas, e agora, com este pseudo carnaval de quinta categoria, pode-se concluir que São Paulo é o túmulo, não só do samba, mas da esperança de que dias melhores virão. Pobre São Paulo, cidade e estado. Pobre de quem ainda acredita neste lugar.




2 comentários:

  1. Acabei de voltar do Rio e vi o quão pobre é o carnaval paulistano. Não só pelas escolas de samba, isso é notório mesmo. Mas São Paulo não tem tradição, condição ou até cacoete para isso. O Rio sempre foi o berço do samba, e recentemente trouxe de voltar o carnaval de rua, maravilhoso e popular. Salvador, Recife, Olinda... dispensa comentários. A folia está enraizada no povo. Até em Minas Gerais os carnavais de rua são tradicionais e, de certa forma, estruturados. Em São Paulo não... Eles tentam empurrar-nos goela a baixo que nós gostamos e temos condições de ser carnavalescos, mas é tudo mentira. Ainda mais como quando prefeitos "competentes" como o Kassab tomam conta da metrópole.
    Nas Olimpíadas de Londres deste ano, o Blur e o New Order tocarão na cerimônia de encerramento dos jogos. Nada de Shakira, Madonna ou Snoopy Dog. Mas sim bandas de rock que é a tradição inglesa.
    Eu acho que SP deveria pegar esse exemplo de Londres e mandar o carnaval as favas... Sei lá, que fechem o Sambódromo e façam um festival com ACDC, Iron Maiden ou, quiçá, Racionais MCs. É muito mais a cara da cidade!

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    1. Esses dias eu comentei com o Marco do Limão que havia sido assistido ao grupo de acesso do Rio de Janeiro no sábado, e que a segunda divisão de lá era muito melhor que o grupo especial de São Paulo. É o que você falou, o Rio é o berço do samba, e São Paulo, o túmulo. Se bem que o carnaval carioca, apesar de ser muito melhor em todos aspectos do que o de cá, também é insuportável, com aquele bando de estrelas globais desfilando nas escolas e infestando os camarotes de um dos 280 patrocinadores. Pra mim, Carnaval de verdade mesmo é que rolou no Cordão da Bola Preta (2 milhões de pessoas nas ruas), o que rola nas ruas de interior de Minas (Mariana, Congonhas etc), em São Luís do Paraitinga-SP. O que a mídia (Globo) vende como carnaval atualmente é qualquer outra coisa, menos carnaval.

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