Hoje, 21 de agosto, completam-se 25 anos da morte de Raul
Seixas. Naquele dia surpreendentemente quente de agosto de 1989, saiu da vida um bêbado com a carreira
em frangalhos, vivendo quase no ostracismo, fazendo discos ruins e entrando e
saindo de clinicas de reabilitação, para entrar para história da música e para a
história da vida de muitos que viam (veem) em suas letras algo mais do que simples
canções.
Escrevi sobre Raul há pouco mais de dois anos, por ocasião do lançamento do filme de
Walter Carvalho, ‘Raul – O Início, o Fim e o Meio’, documentário precioso
primeiro por não ser chapa branca, como o filme da vida do Cazuza, por exemplo,
e também por mostrar cenas inéditas de Raul em shows e entrevistas, e em relatos
daqueles que o cercaram em sua trajetória como astro do rock. O exagero era
parte de sua vida, seja no uso de drogas e álcool, seja na capacidade de
provocar a tudo e a todos. Caso tenham curiosidade, leiam esse texto aqui.
Cantor apenas bom, músico medíocre, Raulzito tinha como
trunfo a força de suas letras. Estas carregavam mensagens poderosas, de um
jeito quase simplório. Ouçam ‘Tente Outra Vez’ e notem se não sentirão
vontade de sacudir o mundo. Ou ‘Metamorfose Ambulante’, para saber que não há
problema em mudar seus conceitos sobre a vida, e que isso é bem melhor ‘do que
ter aquela velha opinião formada sobre tudo’. Deleite-se sem restrições com o álbum
Gita, o melhor álbum da música popular brasileira em todos os tempos. Em que outro álbum,
afinal, se ouve faixas como ‘Sociedade Alternativa’, ‘S.O.S.’, a faixa título 'Gita' (que diz mais
sobre nossas vidas do que qualquer outra canção ou livro ou obra que possa
haver) e ‘Loteria da Babilônia’?
Raulzito deve estar feliz de ter partido tão cedo. Não teve tempo pra ver o
processo de cabacização (substantivo para o ato de tornar-se cabaço, processo tão comum
atualmente, especialmente em músicos dos anos 1980) dos roqueiros que vieram
depois dele. Imaginem Raul tendo que aguentar um Roger ou um Lobão da vida
defendendo o regime militar que ele, Raul, com suas músicas e sua postura
incisiva, sempre provocadora, ora com sutileza ora com os dois pés no peito dos
milicos covardes e assassinos, combateu diuturnamente.
Raul viveu e morreu como quis, e sempre pareceu ter absoluta
consciência disso. Morreu, talvez pra não aturar a escrotidão dos dias de hoje.
Ou morreu, talvez, para não se tornar ele próprio um imbecil, como o ultrajante
Roger. Acho que Raul deve ter partido num disco voador; sua obra, porém, ajuda a trazer, ainda hoje, um significado
a milhares de pessoas que deveriam estar contentes por ter tido sucesso na
vida, com seus empregos, seus carros e seus passeios em zoológicos e tobogãs, mas não estão.
Abaixo, o top 13 das músicas de Raul, sem ordem de
preferência.
Loteria da Babilônia
Gita
Maluco Beleza
Por Quem os Sinos Dobram
Você
Você
Tente Outra Vez
Eu Sou Egoísta
Metamorfose Ambulante
How Could I Know
Meu Amigo Pedro
Ave Maria da Rua
Sapato 36
Só pra Variar