quinta-feira, 21 de agosto de 2014

25 anos sem Raul



Hoje, 21 de agosto, completam-se 25 anos da morte de Raul Seixas. Naquele dia surpreendentemente quente de agosto de 1989, saiu da vida um bêbado com a carreira em frangalhos, vivendo quase no ostracismo, fazendo discos ruins e entrando e saindo de clinicas de reabilitação, para entrar para história da música e para a história da vida de muitos que viam (veem) em suas letras algo mais do que simples canções.

Escrevi sobre Raul há pouco mais de dois anos, por ocasião do lançamento do filme de Walter Carvalho, ‘Raul – O Início, o Fim e o Meio’, documentário precioso primeiro por não ser chapa branca, como o filme da vida do Cazuza, por exemplo, e também por mostrar cenas inéditas de Raul em shows e entrevistas, e em relatos daqueles que o cercaram em sua trajetória como astro do rock. O exagero era parte de sua vida, seja no uso de drogas e álcool, seja na capacidade de provocar a tudo e a todos. Caso tenham curiosidade, leiam esse texto aqui.

Cantor apenas bom, músico medíocre, Raulzito tinha como trunfo a força de suas letras. Estas carregavam mensagens poderosas, de um jeito quase simplório. Ouçam ‘Tente Outra Vez’ e notem se não sentirão vontade de sacudir o mundo. Ou ‘Metamorfose Ambulante’, para saber que não há problema em mudar seus conceitos sobre a vida, e que isso é bem melhor ‘do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’. Deleite-se sem restrições com o álbum Gita, o melhor álbum da música popular brasileira em todos os tempos. Em que outro álbum, afinal, se ouve faixas como ‘Sociedade Alternativa’, ‘S.O.S.’, a faixa título 'Gita' (que diz mais sobre nossas vidas do que qualquer outra canção ou livro ou obra que possa haver) e ‘Loteria da Babilônia’?

Raulzito deve estar feliz de ter partido tão cedo. Não teve tempo pra ver o processo de cabacização (substantivo para o ato de tornar-se cabaço, processo tão comum atualmente, especialmente em músicos dos anos 1980) dos roqueiros que vieram depois dele. Imaginem Raul tendo que aguentar um Roger ou um Lobão da vida defendendo o regime militar que ele, Raul, com suas músicas e sua postura incisiva, sempre provocadora, ora com sutileza ora com os dois pés no peito dos milicos covardes e assassinos, combateu diuturnamente.

Raul viveu e morreu como quis, e sempre pareceu ter absoluta consciência disso. Morreu, talvez pra não aturar a escrotidão dos dias de hoje. Ou morreu, talvez, para não se tornar ele próprio um imbecil, como o ultrajante Roger. Acho que Raul deve ter partido num disco voador; sua obra, porém, ajuda a trazer, ainda hoje, um significado a milhares de pessoas que deveriam estar contentes por ter tido sucesso na vida, com seus empregos, seus carros e seus passeios em zoológicos e tobogãs, mas não estão.

Abaixo, o top 13 das músicas de Raul, sem ordem de preferência.

Loteria da Babilônia


Gita


Maluco Beleza



Por Quem os Sinos Dobram


Você



Tente Outra Vez


Eu Sou Egoísta
Metamorfose Ambulante
How Could I Know
Meu Amigo Pedro
Ave Maria da Rua
Sapato 36
Só pra Variar