Mais uma noite de muitas mortes
na Grande São Paulo. Somente nos três primeiros dias de novembro já são 30
vítimas da violência, sejam elas mocinhos, bandidos ou apenas meros inocentes
que estavam no lugar errado na hora errada. De quem é a culpa desse hediondo
momento de nossa história eu não sei, mas é nítido que o medo é o que impera.
Toques de recolher, policiais que atiram a esmo, ou no primeiro que decide dar bom dia,
pessoas que pulam e assustam com estouro de motos ou bombinhas, assaltantes que
atiram primeiro e depois informam ser um assalto.
Nos últimos três meses, duas
casas em minha rua foram assaltadas, sendo que a última somente não se
concretizou porque um dos vizinhos achou estranha a presença das pessoas a
frente da casa e assustou os assaltantes. Semana passada (02/11), por volta
da meia noite, o alarme de uma das casas de uma rua vizinha (sempre a rua
vizinha) disparou e permaneceu tocando por aproximadamente 10 minutos. Como
deveria ser normal em qualquer cidadão (no mais amplo que essa palavra deve ter),
saí de dentro de minha casa para tentar verificar o que estava ocorrendo e
liguei para o 190.
Após praticamente 5 minutos de
espera, com a linha muda, um sujeito com nenhum pingo de educação me atendeu. Pus-me
a falar imediatamente sobre o ocorrido (em meus sinceros pensamentos quanto
mais rápido eu falasse, mais cedo uma patrulha poderia ser acionada e talvez
pegar alguém com a boca na botija), mas o tal sujeito apenas queria saber meu
nome. Após tanta insistência informei meu nome, relatei que um alarme de casa
estava tocando (naquele momento o alarme já tinha parado), que eu não tinha
como verificar se existia alguém na casa ou informar a casa exata. Após isso,
deu-se o seguinte o diálogo:
190 - “Mas tem alguém na casa?”
Eu - “Não sei, mas o senhor não
acha estranho um alarme permanecer tocando por 10 minutos? Se o dono estivesse
na casa ele já o teria desligado.”
190 – “Então se eu encaminhar uma
viatura para lá, ela vai não irá encontrar nada?”
Eu – “Sei lá, mas vocês poderiam
encaminhar uma para averiguar?”.
Mas a verdadeira vontade era
dizer: “Porra... Você quer que eu vá até a casa (na rua de trás) e toque a
campainha para ver se algum bandido me atende? Assim posso sacar meu 38, matar
todos e depois só chamá-los para que venham tirar os corpos. Que tal?”
Após 40 minutos (sim, 40
minutos!!) recebo uma ligação de um policial de uma viatura (havia sons do
rádio da polícia ao fundo) informando se eu iria me encontrar com eles na tal
casa. Ou seja, quarenta minutos após ter ligado para o 190 e ser atendido
com ironias, a polícia finalmente resolveu ir verificar. Resta, então, saber quem está com mais medo: quem veste a farda ou quem vê o fardado assustado, com o dedo no gatilho, pela frente.
Twitter: @fimori