sábado, 10 de novembro de 2012

Medo da farda

Por Filipe Mori

Mais uma noite de muitas mortes na Grande São Paulo. Somente nos três primeiros dias de novembro já são 30 vítimas da violência, sejam elas mocinhos, bandidos ou apenas meros inocentes que estavam no lugar errado na hora errada. De quem é a culpa desse hediondo momento de nossa história eu não sei, mas é nítido que o medo é o que impera. Toques de recolher, policiais que atiram a esmo, ou no primeiro que decide dar bom dia, pessoas que pulam e assustam com estouro de motos ou bombinhas, assaltantes que atiram primeiro e depois informam ser um assalto.

Nos últimos três meses, duas casas em minha rua foram assaltadas, sendo que a última somente não se concretizou porque um dos vizinhos achou estranha a presença das pessoas a frente da casa e assustou os assaltantes. Semana passada (02/11), por volta da meia noite, o alarme de uma das casas de uma rua vizinha (sempre a rua vizinha) disparou e permaneceu tocando por aproximadamente 10 minutos. Como deveria ser normal em qualquer cidadão (no mais amplo que essa palavra deve ter), saí de dentro de minha casa para tentar verificar o que estava ocorrendo e liguei para o 190.

Após praticamente 5 minutos de espera, com a linha muda, um sujeito com nenhum pingo de educação me atendeu. Pus-me a falar imediatamente sobre o ocorrido (em meus sinceros pensamentos quanto mais rápido eu falasse, mais cedo uma patrulha poderia ser acionada e talvez pegar alguém com a boca na botija), mas o tal sujeito apenas queria saber meu nome. Após tanta insistência informei meu nome, relatei que um alarme de casa estava tocando (naquele momento o alarme já tinha parado), que eu não tinha como verificar se existia alguém na casa ou informar a casa exata. Após isso, deu-se o seguinte o diálogo:
190 - “Mas tem alguém na casa?”
Eu - “Não sei, mas o senhor não acha estranho um alarme permanecer tocando por 10 minutos? Se o dono estivesse na casa ele já o teria desligado.”
190 – “Então se eu encaminhar uma viatura para lá, ela vai não irá encontrar nada?”
Eu – “Sei lá, mas vocês poderiam encaminhar uma para averiguar?”.
Mas a verdadeira vontade era dizer: “Porra... Você quer que eu vá até a casa (na rua de trás) e toque a campainha para ver se algum bandido me atende? Assim posso sacar meu 38, matar todos e depois só chamá-los para que venham tirar os corpos. Que tal?”

Após 40 minutos (sim, 40 minutos!!) recebo uma ligação de um policial de uma viatura (havia sons do rádio da polícia ao fundo) informando se eu iria me encontrar com eles na tal casa. Ou seja, quarenta minutos após ter ligado para o 190 e ser atendido com ironias, a polícia finalmente resolveu ir verificar. Resta, então, saber quem está com mais medo: quem veste a farda ou quem vê o fardado assustado, com o dedo no gatilho, pela frente.

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sábado, 3 de novembro de 2012

Custe o que custar


Durante a semana que se passou, muito se comentou, em especial na Internet, mais especialmente ainda no Twitter, sobre a agressão sofrida pelo 'jornalista' do programa humorístico CQC, da TV Bandeirantes, por militantes petistas que tentavam abrir caminho para José Genoíno, ex-presidente do PT e réu condenado no caso do mensalão (o do PT, não o do PSDB), entrar e sair da escola onde vota sem ser incomodado. Muitos 'revoltados de teclado', essa praga cada vez mais constante na rede mundial de computadores, demonstraram apoio ao 'repórter', aparentemente uma vítima inocente de uma agressão covarde cometida por petistas ignorantes.

Cito este fato porque não é de hoje que o referido programa, cuja pretensão é ser engraçado (e jornalístico) tem problemas dessa natureza. Outros homens de preto da atração já apanharam no exercício das suas funções. Daqui em diante tentaremos demonstrar, então, a verdade dos fatos, como adora dizer o Reinaldo Azevedo, aquele sujeito escroto que escreve na VEJA, também conhecida como detrito sólido de maré baixa (by PHA) ou esgoto encadernado (by eu mesmo). Tentaremos desmascarar qual a verdadeira intenção do humorístico sem graça.

Cabe, antes de tudo, um esclarecimento, que julgo importante: assisto ao referido programa com certa frequência desde o seu início, em 2008, e digo que o que antes parecia ousado, provocador, com uma pitada de ironia juvenil, hoje é somente uma máquina de repetição de clichês e 'merchans' que deixariam Milton Neves com inveja, e que enche o saco de todo mundo. Bom, o de todo mundo eu não sei, mas pelo menos o meu já encheu, e não é de hoje.

Houve, de fato, a agressão? Sim. Não se discute, pois quem briga com imagens bom sujeito não é (ou quem não gosta de samba bom sujeito não é? Não sei, mas sigamos em frente). Se bem que um bom editor pode 'moldar' uma reportagem de forma que eles se tornem vítimas de um espancamento. Mas, por ora, não levarei isso em consideração, então retomo. Agora, o que me ocorreu, assistindo à cena, foi a seguinte pergunta: que direito tem um jornalista, ou, pior, um comediante travestido de repórter, de tentar esculachar quem quer que seja, independente de ser um político condenado pela Justiça ou o mais humilde dos seres?

Nenhum, eu mesmo respondo, e vou mais além: tipos como esses humoristas que hoje abundam aos montes (ok, admito que eventualmente eu rio das piadas desses caras), se utilizando desse expediente baixo, rasteiro, para constranger pessoas (de novo, independente da condição financeira, social, psicológica ou penal) tem mais que é levar uns sopapos mesmo. Quem sabe assim ficam espertos e veem que não podem fazer o que querem em nome do humor. Ou do jornalismo. Ou daquilo que eles, integrantes do CQC e cequecezetes, pensam ser uma mistura dos dois. O que eles fazem é outra coisa, indefinida, quase sempre sem graça, quase sempre desrespeitosa. Então, que assumam as consequências por suas provocações baratas. Afinal, o que vale é esculachar, custe o que custar.